O desafio do varejo de moda
Em Camaquã, Porto Alegre, e no resto mundo a situação é a mesma. As pessoas estão deixando de comprar roupas
Não raro temos visto lojas fechando. Basta dar uma volta em qualquer centro comercial, seja de cidade grande ou pequena que vamos notar espaços onde antes era um ponto de venda de moda e que agora não existe mais. Balanços são divulgados quase diariamente e nos últimos três anos só despencam. Em Camaquã, Porto Alegre e no resto do mundo a situação é a mesma. As pessoas estão deixando de comprar roupas.
Esta crise que se assola não é problema de um determinado segmento ou de uma localidade específica. Ela está acontecendo no mundo todo. Marcas de luxo ou de fast fashion. A verdade que é a maneira das pessoas se relacionarem com a moda mudou. Quem pode comprar alguma roupa, qualquer uma, está ciente de já tem de mais no seu armário. O varejista ficou refém de um alto mark-up, que o consumidor tomou conhecimento e foi seduzido pelos preços baixos da China (que por sinal, também tem um mark-up alto, mas que nós sabemos da forma escravocrata que age pare ter estes preços). O que fez com que as temporadas de liquidações se tornassem cada vez mais a grande época de faturamento. E claro, esta conta não vai fechar. O empresário não pode viver de promoção.
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Por um lado os lojistas, com gastos altos pois precisam de estoques (grade de tamanho) grandes, tem custos elevados e convivem de igual para igual com a concorrência de um gigante que está pouco se importando com o que é certo ou errado. E por outro lado, um consumidor cansado de pagar preço cheio sabendo que pouco tempo depois aquilo vai deixar de valer aquele tanto e poderá ser comprado com 50% de desconto, e armários cada vez mais lotados.
Qual a saída então? Como superar este desafio? Os antigos modelos. O que funcionou outrora. O que deu certo há dez, vinte, ou dois anos atrás, simplesmente não serve mais. E sabe porque? Porque quem mudou fomos nós. As pessoas hoje estão percebendo as coisas de uma forma diferente de antes, e a moda é sensível a isto. Talvez o mercado mais compassivo a esta situação, pois repito, ninguém (que pode comprar) precisa de mais roupa. Quando tu vais construir uma casa, precisa de cimento. Quando tu estas doente, precisa de remédio. Quando tu vais te vestir, tu já tens mais que o suficiente em casa.
A moda depende de muitas outras coisas que não necessidade. O por trás da compra é sempre mais profundo do que a escolha de uma peça. A vontade de impressionar. Uma compensação. Dar-se um troféu por uma conquista. E estes são só alguns dos motivos que levam alguém a consumir moda. Perceba, a precisão real passa longe deles.
Só irá sobreviver quem entender o seu consumidor, quem colocar o cliente como centro do seu negócio. Para André Carvalhal a resposta é simples, as pessoas querem se conectar com propósitos, inclusive através das marcas. Mas quantas casas o varejo precisa andar neste jogo para chegar neste patamar? Num oceano de indagações, uma certeza, a maneira que é hoje está com dias contados.
Legenda da foto: pessoas visitando a loja multimarcas Colette, em Paris, pouco tempo antes dela fechar em dezembro de 2017. Colette foi uma das lojas mais famosas no mercado da moda e teve seu apogeu na década de 90 e no início dos anos 2000. Ao se espalhar a noticia do encerramento de suas atividades, uma horda de pessoas foi ao local para conhecer. Para comprar, havia muito pouca gente.