A Voz e a Vez das Mulheres
Um pequeno resumo de como chegamos até aqui!
Há um ano a Clic Rádio inaugurou um espaço essencialmente feminino. O Programa Elas por Elas. Este programa tem por objetivo promover um debate entre mulheres, trazendo à tona temas de seu interesse e que possam colaborar para com uma sociedade mais equilibrada entre os gêneros. E há alguns meses, eu tenho a honra de apresentar o programa, cumprindo esta missão de gerar espaço para que mulheres das mais diversas áreas de interesse e expressão, possam ter voz e vez.
Porém, ao aceitar comandar o programa me veio à tona a seguinte reflexão, que é a de ainda termos a necessidade de definirmos um espaço específico para falarmos sobre assuntos relevantes para o desenvolvimento emocional, social e profissional de um único gênero. Seguindo nesta lógica, deveríamos ter um Eles por Eles, o que não acontece, por que, de fato o mundo continua sendo essencialmente masculino. Nós mulheres, diariamente precisamos lembrar que temos direitos e de como os conquistamos. Para te ajudar, aqui vai um pequeno resumo de como chegamos até aqui…
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Na História da Humanidade, homens e mulheres representaram papéis distintos na sociedade. Enquanto o Homem era responsável pelo sustento e segurança da família, a Mulher era responsável pelo cuidado da casa e criação dos filhos. Assim, filosoficamente, os homens estariam voltados para o externo e as mulheres para o interno ou, em outras palavras, os homens devem se preocupar com o que é tangível e as mulheres, com o que é intangível.
Já, sociologicamente falando, pressupomos expectativas de comportamentos entre os indivíduos e destes para consigo mesmos. Essas funções ou padrões comportamentais, variam conforme diversos fatores, entre eles, a classe social, a posição no trabalho, escolaridade, religião e até mesmo, segundo o seu sexo. Ou seja, o padrão social está profundamente ligado ao aspecto biológico (gênero), determinado pela feminilidade ou pela masculinidade, enquanto comportamento e identidade, pois existem comportamentos de homens e comportamentos de mulheres.
Logo, culturalmente, existem coisas de menino e coisas de menina. Convenções elaboradas para justificar a aplicação e a perpetuação destes padrões de comportamento seculares onde a mulher deveria ser governada pelo homem, pai, marido, irmão, tio, e até mesmo, filhos. A estes cabiam o dever da responsabilidade por elas, pelo simples fato de que elas não teriam condições cognitivas para gerirem suas vontades. E lendo este texto, com justificativas plausíveis e teorias fundamentadas, chama a atenção que todas elas, sem exceção foram formuladas por… Homens!
No andar da carruagem, muitas coisas foi acontecendo… da queda do Império Romano à Revolução Francesa, das Cruzadas à Revolução Industrial, em todos estes momentos históricos o papel da mulher foi encontrando espaço para se transmutar e ganhar força, principalmente quando conseguimos demonstrar que podíamos produzir e ganhar dinheiro da mesma forma que os homens. A chegada das indústrias trouxe consigo a crescente necessidade de mão de obra e a consequente redução nos ganhos, tornando necessário que toda a família ocupasse as vagas laborais, diminuindo a distância entre o que era feminino e o que era masculino, ao menos no âmbito da produção.
O nascimento da Mulher que trabalha fora foi marcado pela dupla jornada, pois mesmo ocupando este espaço no mercado de trabalho o mesmo não aconteceu dentro de casa, no “mercado do lar”. As mulheres mantiveram a responsabilidade pelos serviços domésticos, criação dos filhos e cuidado com os maridos. Já os homens, estes mantiveram apenas seu fardo de sustentar a casa, mesmo quando não tinham trabalho, ou ganhavam insuficiente para gerir a todos, abrindo a porta da rua para que as mulheres o fizessem.
As duas grandes guerras mundiais também foram de extrema importância para estabelecer novos papéis sociais e culturais para as mulheres, e desta vez, não só pelo espaço ganho no mercado de trabalho. Ora, se os homens estavam na guerra, medindo a força no braço, as mulheres iniciaram a ditar novas regras seja através do voto ou pela sua atuação na gestão de negócios e da família, alterando assim o status quo.
E assim inicia-se a maior revolução cultural e social que temos notícia. Sim, inicia-se a revolução feminista. Tal qual em toda Revolução, o medo de perder lugar e de tornar-se irrelevante fez com que os homens protegessem ainda mais seus espaços, pois diferente das mulheres, eles não conseguem executar com excelência a dupla jornada (!?!).
Sabe-se que a mulher exerce dupla função. Se ela é capaz de exercer tudo que o homem executava, cabe ao homem deixar de lado o preconceito e aliar-se a ela. Porém, esse pensamento agregador é feminino. O masculino é linear, e somente vê perdas, ao invés de promover a multiplicação.
Essa profunda crise de identidade masculina, gerada por ter de dividir um espaço do qual era rei – literalmente o dono do campinho e da bola – faz com que aja da mesma forma que aprendeu a fazer pelos séculos a fora, usando a força para delimitar seu território e impor a sua vontade. Seja através da violência física em casamentos abusivos, seja em tratamentos desrespeitosos para com mulheres com carreiras em ascensão, o patriarcado está esperneando por espaço, chorando a plenos pulmões.
Ora, as mulheres se preparam para suas batalhas de forma diferente dos homens. Nós somos mais estratégicas, afinal, não foi a toa que criamos filhos durante os últimos séculos. Filhos são nosso projeto de mais longo prazo, e com eles aprendemos que é preciso ter calma e persistência. Entendemos que tudo tem um tempo certo… afinal, as crianças demoram a falar, andar, cuidarem-se sozinhas… então, entendemos que também precisamos deste tempo de maturação para colher os frutos de nosso trabalho. E que a preparação, o ensinar – aprender é essencial para o resultado final. E estamos “comendo pelas beiradas”, sim senhor, estamos fincando o pé direto na estratégia e deixando a operação para seus reais ocupantes, os homens.
Assim, vamos mais frequentemente que os homens para a escola, nos preparamos melhor e hoje, temos um maior grau de escolaridade do que o outro gênero. Consequentemente, casamos mais tarde e logo, temos menos filhos. Conseguimos, cada vez mais, dividir tarefas do segundo turno com a prole e até mesmo com o companheiro, o que nos deixa mais tempo para aprendermos, e aprendendo, conquistamos melhores lugares no mercado de trabalho, ganhamos mais, casamos mais tarde, temos menos filhos…um ciclo que está começando a se repetir, tornando cada vez mais próximas as linhas de chegada entre homens e mulheres.
Na nossa linha do tempo, voltamos à bancada do Elas por Elas. Na chamada do programa reiteramos para os ouvintes que o programa é pensado para as mulheres e que em seu conteúdo teremos dicas de empoderamento, empreendedorismo e liderança feminina.
Empoderar, apoiar o empreendedorismo e estimular lideranças femininas certamente são pontos focais da tal revolução feminista. Se queremos ser justos, devemos promover um espaço aonde o poder está dado a quem de direito e, se as mulheres produzem, tanto recursos econômicos como científicos, tecnológicos e artísticos, elas merecem receber os méritos. Entenda, não pelo simples fato de serem mulheres, mas pelo fato de serem pessoas que colaboram, conectam e agem para o todo e que nem sempre foram vistas como tal, ou até mesmo, como capazes de fazê-lo. Da mesma forma, o apoio ao empreendedorismo e à liderança feminina deve ser exaltada sim, por que mulheres ocuparam estes papéis desde sempre, porém, ficaram sempre à sombra da figura masculina pelo simples fato de serem de um gênero diverso ao dominante.
As mulheres conseguiram sim, alcançar muitos direitos, através das leis que foram conquistadas e pelos movimentos sociais: direitos ao voto feminino, direitos sexuais e reprodutivos, direitos à educação, ao trabalho, ao divórcio, direitos diante das violências contra as mulheres, mas ainda assim, há uma grande dificuldade para alcançar a equidade entre os sexos.
Em síntese, na tal revolução feminista, há uma busca pela equidade entre os gêneros, deixando de lado a biologia, a sociologia, a filosofia… e todos os estudos possíveis, ficando somente o tal dilema ético: por que um gênero deve ser melhor que o outro? Um gênero realmente é melhor do que o outro?
E enquanto o dilema ético não se resolve, são ações como a do Clic, do Programa Elas por Elas e do Troféu Elas por Elas, que chega em outubro de 2022 para reconhecer personalidades e empreendedoras femininas de Camaquã, que moldam e estruturam nosso caminho, ao promover um diálogo aberto, objetivo e transparente sobre o futuro das mulheres, suas batalhas e suas conquistas.