A moda do agora

Toda profissão tem seus clichês, frases que a gente diz, frases que os outros nos dizem. Ao trabalhar com moda, uma das frases que mais ouço é “qual a tendência da próxima estação?”. Quando eu comecei minha carreira e, por aí pode-se calcular mais de dez anos, ainda existiam algumas tendências mais fortes, mas isto durou pouco tempo. Mais do que nunca, isto não permanece.

Acabou aquilo de que só uma coisa é interessante ou permitida. Acabou o comprimento X, o corte Y. Já era. Isto faz parte de um passado que não condiz com nosso presente e dificilmente fará sentido no futuro. Se formos analisar de uma maneira técnica e estética com relação ao design, temos de olhar para os seguintes elementos: cor, silhueta (forma e corte) e textura. E desafio a alguém me citar pelo menos UMA coisa que não seja permitida. Todas as cores são aceitas, todos os tamanhos, comprimentos, formas e todos os tecidos e texturas também.

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Mas e então, qual a moda do agora? A moda do agora é libertar-se e encontrar-se consigo e com o que tu queres. Que medo, não é mesmo? Será que não era mais fácil, quando só era permitido saias quatro dedos abaixo do joelho e os ternos masculinos tinham todos a mesma modelagem? Talvez. A liberdade pode assustar, afinal, muitas opções de escolha acaba tornando o processo mais difícil. Hoje, o que não é permitido é usar algo que não diga respeito de ti mesmo, encontrar a nossa essência e usarmos a moda como uma ferramenta para nos sentirmos bem. Este é o shift* que o novo milênio veio nos mostrar.

A moda do agora é sentir-se confortável, porém quem define o que é conforto é cada um. Para umas pessoas isto significa usar roupas decotadas e justas, para outras malhas e modelagens soltas. Entende? A moda do agora é me sentir eu mesma, dentro do contexto que estarei inserida. A moda do agora é ter consciência do que eu sou e onde eu quero chegar e explorar isto na minha imagem, ou melhor, transbordar isto na minha imagem. A régua que media a moda não foi jogada lixo, ela foi reciclada, expandida e dividida em muitas outras réguas, que foram distribuídas para cada pessoa e cada um hoje, tem o poder de dizer o que está na moda ou não para sua própria vida.

Mas isto não significa que as estéticas deixaram de existir, que o senso do que combina como que e o que fica harmônico com o que tenham desaparecido. O que está diferente é o mindset*, que não é mais uma para todos e sim cada um com o seu. As coisas ainda tem uma maneira e estilo de serem feitas, e estas sim, mudam bastante, afinal de contas, de alguma forma as novidades tem de seguirem surgindo.

Portanto, sabendo que cada um tem a sua régua e pode dentro disto criar a sua estética e desenvolver sua identidade, como dizer quem está certo e quem está errado? A dupla oriental (foto) em Paris, ou a artesã (foto) peruana? A moda extravagante de um povo ousado em uma das capitais da moda ou as senhoras que vivem uma cultura milenar e que carregam a mesma roupa que o povo daquela localidade? Viver este momento em que podemos ter contato próximo com tamanha diversidade é com certeza um privilégio, e pode ser  muito mais divertido do que parece. E nada vale a pena, se não tiver um pouco de diversão.

*shift e mindset são palavras da moda que significam respectivamente mudança e mentalildade.