Lobo terrível é recriado após 10 mil anos graças à ciência
Filhotes de lobo terrível nascem em laboratório após avanços no uso de DNA fóssil. Projeto marca nova era da biotecnologia e reacende debates sobre ética e conservação ambiental.

Lobo terrível é recriado após 10 mil anos graças à ciência. Uma das criaturas mais temidas da era do gelo — e imortalizada na cultura pop — voltou a caminhar sobre a Terra. Estamos falando do lobo terrível (ou Dire Wolf), um predador extinto há cerca de 10 mil anos e que agora renasce graças à tecnologia de edição genética CRISPR. Os primeiros filhotes da espécie, batizados de Rômulo, Remo e Khaleesi, nasceram no final de 2024 em um laboratório da startup americana Colossal Biosciences.
Leia outras notícias de Mundo Animal no Clic Camaquã
📱 Clique para receber notícias de graça pelo WhatsApp.
Essa conquista inédita representa um marco para a ciência e para o movimento de “desextinção”, que busca restaurar espécies extintas por meio da biotecnologia. Utilizando DNA recuperado de fósseis com até 72 mil anos, cientistas conseguiram reconstruir o genoma completo do lobo terrível e realizar modificações genéticas precisas em lobos cinzentos modernos, resultando em uma versão quase idêntica do predador ancestral.
Lobo terrível: uma lenda real que volta à vida
Muito antes de se tornar símbolo da família Stark em Game of Thrones, o lobo terrível era um caçador dominante nas Américas. Ele percorria regiões que hoje correspondem aos Estados Unidos, Canadá e partes da América do Sul, caçando presas gigantes como bisões antigos e mastodontes. Com cerca de 80 kg, era maior e mais robusto que os lobos cinzentos atuais.
Apesar da fama recente nas telinhas, trata-se de uma espécie real, com milhares de fósseis encontrados em sítios arqueológicos como o famoso La Brea Tar Pits, em Los Angeles. Só nesse local, mais de 3.600 esqueletos de lobos terríveis foram descobertos — o que deu aos cientistas uma base sólida para estudar e reconstruir seu DNA.
Lobo terrível: Da ficção à realidade: a criação dos novos filhotes
Os filhotes recriados pela Colossal Biosciences não nasceram por acaso. O projeto envolveu mais de 20 edições genéticas em embriões de lobos modernos, com foco na recuperação de características originais do lobo terrível — incluindo tamanho, força e até mesmo a cor da pelagem. Os animais nasceram com pelos brancos, resultado de uma variação genética identificada em novas análises dos fósseis.
Dois dos filhotes — os machos Rômulo e Remo — foram nomeados em homenagem aos lendários irmãos fundadores de Roma, que segundo o mito foram criados por uma loba. A fêmea recebeu o nome de Khaleesi, um tributo direto à personagem Daenerys Targaryen da série da HBO.
Os três vivem atualmente em uma reserva ecológica com localização mantida em sigilo. Segundo a Colossal, o ambiente foi cuidadosamente preparado para garantir o bem-estar dos animais e permitir a observação científica contínua de seu desenvolvimento.
O papel da cultura pop: trono de ferro e Game of Thrones
A recriação do lobo terrível não passou despercebida por Hollywood. O cineasta Peter Jackson e o autor George R.R. Martin, criador de Game of Thrones, participaram da apresentação oficial dos filhotes. Jackson, inclusive, cedeu o Trono de Ferro original da série, avaliado em mais de US$ 1 milhão, para uma sessão de fotos com Rômulo e Remo.
Martin, que atua como consultor da Colossal e também investe no projeto, visitou pessoalmente os lobos na reserva. Em comunicado, destacou a importância simbólica da espécie: “Muitos os veem como criaturas mitológicas, mas o lobo terrível tem uma história rica e real na ecologia das Américas”, declarou.
Um passo para o futuro (e os dilemas que vêm com ele)
Embora a recriação do lobo terrível seja uma conquista impressionante, ela levanta questões éticas importantes. Especialistas debatem os riscos de reintroduzir espécies extintas no ambiente moderno, principalmente quando os ecossistemas atuais já estão altamente alterados. Há também preocupações sobre o bem-estar dos animais e o impacto em espécies vivas.
Por outro lado, a Colossal defende que sua missão é alinhar biotecnologia com conservação. Além do lobo terrível, a empresa já clonou lobos vermelhos — espécie em risco crítico de extinção — e pretende aplicar a mesma tecnologia para trazer de volta o mamute lanoso, o tigre-da-Tasmânia e até o dodô.
Segundo Ben Lamm, CEO da Colossal, o objetivo é criar reservas ecológicas seguras, preferencialmente em terras indígenas na América do Norte, onde o lobo terrível possa viver e, eventualmente, se reproduzir.
A ciência que recria o passado para salvar o futuro
O nascimento de Rômulo, Remo e Khaleesi marca o início de uma nova era. Se a tecnologia CRISPR já foi revolucionária por permitir a edição de genes em organismos vivos, agora ela assume um papel ainda mais ousado: o de reverter extinções. E embora desafios éticos, ecológicos e científicos permaneçam, não há como negar que vivemos um momento histórico.
O lobo terrível, outrora uma memória enterrada em fósseis e mitos, voltou a uivar — desta vez, como símbolo de um futuro em que ciência e imaginação caminham lado a lado.