Caso Bruno: Hospital de Camaquã se pronuncia sobre morte de paciente e abre sindicância

Caso Bruno: Hospital de Camaquã se pronuncia sobre morte de paciente e abre sindicância. A morte de Bruno de Leon Vargas de Freitas, de 25 anos, gerou grande repercussão em Camaquã e região. O jovem, que inicialmente recebeu atendimento no Hospital Nossa Senhora Aparecida (HNSA), veio a óbito no último domingo (17) no Hospital Dom Vicente Scherer, em Porto Alegre, após complicações decorrentes de cálculos renais. Familiares alegam negligência médica e cobram respostas.
Caso Bruno: Hospital de Camaquã se pronuncia. Leia a nota oficial
Diante da comoção da comunidade e das acusações de negligência, o Hospital Nossa Senhora Aparecida emitiu uma nota oficial na sexta-feira (21), esclarecendo que uma sindicância interna foi aberta para apurar os fatos. O hospital garantiu que está comprometido com a transparência e que já está em contato com os familiares através da advogada designada pela família.
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No comunicado, o hospital reafirmou seu compromisso com a ética médica e a qualidade dos serviços prestados, destacando que medidas serão tomadas caso sejam identificadas irregularidades.

Atendimento e transferência
Bruno morava em Camaquã e tratava do seu problema de saúde no HNSA há algum tempo. Entre os dias 23 de fevereiro e 1º de março, ele esteve internado na unidade, mas a gravidade do seu quadro levou à remoção emergencial para a capital gaúcha.
A família relata que a situação poderia ter sido evitada caso a cirurgia para remoção da vesícula tivesse sido realizada com maior agilidade. Segundo Ester Machado, esposa de Bruno, os médicos do HNSA minimizaram a gravidade da condição, apenas prescrevendo medicações e postergando a cirurgia.
Em Porto Alegre, a equipe médica constatou que o pâncreas de Bruno estava 100% necrosado devido à progressão da pancreatite, uma complicação decorrente dos cálculos biliares.
Protesto e busca por justiça
Amigos e familiares de Bruno organizaram uma manifestação pacífica para este domingo (23), com concentração na Praça Zeca Netto, em Camaquã. Os participantes pretendem seguir até a frente do hospital, exigindo justiça pela morte do jovem.
Francine Hubner, amiga próxima da família, afirma que o hospital tem demorado para disponibilizar o prontuário do paciente, levantando ainda mais questionamentos sobre o atendimento prestado.
Possíveis desdobramentos
Com a sindicância em andamento, a investigação pode resultar em ações administrativas e judiciais contra os responsáveis pelo atendimento. O hospital reforça que está disponível para esclarecimentos e que segue acompanhando o caso com seriedade.
A comunidade de Camaquã segue acompanhando o desenrolar das investigações, enquanto a família de Bruno busca justiça e responsabilização pelos eventos que levaram à sua morte. O caso segue sendo debatido nas redes sociais, com grande mobilização popular.
Luto
O corpo de Bruno foi sepultado na segunda-feira (17), no Cemitério Bom Pastor. Bruno de Leon de Vargas Freitas deixou esposa, um filho, os pais, uma irmã e demais familiares e amigos enlutados.
Leia o texto completo que está sendo divulgado:
JUSTIÇA PELO BRUNO
(Texto pela Ester Machado, esposa do Bruno)
Não sei nem por onde começar esse terrível texto, mas estou aqui por mim, pelo meu filho, pela família e amigos do Bruno e para que ninguém mais sofra a dor horrível que nós estamos vivendo. Há mais de 2 anos, o Bruno começou a sentir umas dores na barriga e, de imediato, fomos atrás. Depois de exames de imagem, descobrimos cálculos biliares (pedra na vesícula). A partir daí, descobrimos que não havia um tratamento, mas que a cirurgia da vesícula era algo rápido e que resolveria tudo. Encaminhamos pelo ambulatório a cirurgia, iniciaram todos os exames e a qualquer momento seria “chamado” para cirurgia. Lembrando que nunca nos foi mencionado que algo mais grave além das crises de dores poderia acontecer. Dia 22 de dezembro do ano passado, depois de já ter tido algumas crises de dor, ir na UPA, ser medicado e mandado para casa, veio o resultado do exame: pancreatite leve, uma das pedras se deslocou e obstruiu o canal por onde saem enzimas do pâncreas e causou uma inflamação na região. O Bruno internou no hospital no mesmo dia 22 e fez antibiótico na veia até o dia 24. Como todos sabem, o Bruno tem um filho que é autista e tinha apenas 3 anos, sentindo muita falta dele em casa. Eu creio que todos que internam no hospital têm a mesma vontade de sair o quanto antes de lá. Ele chamou o dr Gabriel, que estava no plantão, e pediu se possível ele terminar o tratamento de casa, pois estava com muita saudade do filho. O médico na minha frente e do Bruno nos disse que liberaria o Bruno para ir para casa e nos instruiu a ir no ambulatório e pedir a cirurgia com mais urgência, sem mencionar em nenhum momento que tinha esta GRAVIDADE! Deram a alta dia 24, à tardinha, dia 25 foi Natal e dia 26 o Bruno voltou para o ambulatório. Desde dezembro, o Bruno teve mais crises, com muita dor, foi para a UPA, refazia os exames, era medicado e liberavam sem a cirurgia de urgência. Quando foi dia 20 de fevereiro, o Bruno não aguentava de dor, almoçamos e fomos para o hospital, passamos lá até as 20:00 da noite, ele fez eco, exames laboratoriais e a resposta da boca do médico foi “o Bruno tem cálculos biliares e uma inflamação crônica na vesícula, precisa com urgência da cirurgia”. Eu imaginei que naquele momento ele faria a internação e pediria para o cirurgião vir já avaliar, mas não, no corredor no PS ele nos disse que estávamos liberados, deu dipirona e tramadol para dor e pediu para o Bruno aguardar o ambulatório chamar. No dia 21, na sexta, a dor voltou, e ali eu vi que não poderia ser só a vesícula, e pensamos que poderia ser uma nova crise leve de pancreatite leve. Passou até as 03:00 da manhã na UPA, na medicação e observação, refez todos os exames e mais uma vez foi liberado. Até que no dia 22, no sábado, depois de ter chegado às 03:00 da manhã, saiu às 07:00 sem nem me avisar, dizendo “amor, eu não aguento de dor”, saiu correndo sem sequer me esperar, desesperado de dor abdominal. Saí de Uber logo após dele e, quando cheguei, me deparei com ele pálido, todo molhado de suor, e urrando de dor, depois de já ter feito 3 doses de morfina, isso em poucas horas. Refizeram os exames e chamaram o cirurgião Pedro, que chegou para examiná-lo. Ele, em desespero, disse: Dr.”, por favor, me opere, eu não aguento esta dor.” A primeira resposta foi: “Hoje é sábado, péssimo dia para isso, eu ia ter que te abrir, então espera no antibiótico e depois nós vemos para fazer a cirurgia de vídeo”. O Bruno seguiu implorando e falando: ‘pode ser de corte, eu só quero que essa dor passe.’ Depois disso, resumidamente, ele passou o dia tomando morfina e tramadol, deitado no PS. Até que veio o resultado de uma nova pancreatite, que já poderia ter sido evitada. Fizeram a internação, e eu pensei que iria ser igual dezembro, mas dessa vez vão operar e semana que vem ele estará bem em casa. Mas daí começou o nosso sofrimento, no domingo encaminharam o Bruno para UTI, e a resposta do médico foi: o caso do Bruno não é grave, ele só vai para a UTI para ser assistido melhor porque ele teve febre no PS e não viram por causa dos acidentes e hospital lotado. O Bruno ficou do dia 23 até o dia 01 de março na UTI de Camaquã. Até que eles nos disseram que o caso do Bruno era grave e que nós precisávamos ficar cientes dos riscos, nós tentamos contato com o diretor do hospital, com o Dr. Thiago Bonilha, que nos via todos os dias na fila da UTI, e só o que nos era dito da boca dos médicos é que tudo que o Bruno precisava no momento tinha aqui. O Bruno, com pancreatite, estava recebendo alimentação, e só Deus sabe a culpa que eu sinto, porque para nós era passado que ele precisava comer para melhorar, e ele me dizia que estava com dor, que não tinha fome, e eu dizia: ‘come pelo nosso filho para ti voltar logo para nós’. É tanta injustiça e despreparo que eu não consigo não chorar e me abater escrevendo cada palavra. O Bruno dizia que tinha feito xixi, mas não muito porque foi cortada de novo a alimentação, não podia nem tomar água, e então iniciaram a hemodiálise precoce porque o rim tinha parado, mas sempre nos lembrando que tudo o que ele precisava tinha aqui e que os exames já estavam apresentando melhora. Em todos os dias que ele esteve ali, perguntávamos se ele não precisava ser transferido para um hospital com mais recursos para o caso dele, e a resposta era que, quando fosse preciso, mandariam, mas que ele estava “melhorando”. Até o dia em que chegamos, eu, o Chiquinho e o Dr. Diego, de extrema empatia, nos informou do caso e nos alertou sobre os riscos. Voltamos com tudo que ele falou na cabeça e corremos atrás da transferência para Porto Alegre. Graças à atenção da Fabia, junto com a empatia do Dr. Diego, conseguimos a transferência para o hospital Don Vicente Sherer do Santa Casa. Na partida com a UTI móvel daqui pra lá, já começamos não conseguindo o laudo da tomografia com hospital, que acabou mandando somente o CD. Ali eu sentia que poderia ter algo a mais. Quando chegamos ao hospital de Porto, foi que tivemos noção do tamanho do estrago que a doença, junto com a negligência do hospital de Camaquã, tinha causado. No primeiro dia no Don Vicente Scherer, eles nos chamaram e, com todo carinho e empatia, nos disseram que o caso do Bruno era gravíssimo e ele poderia vir a óbito a qualquer momento. Ele foi sedado e entubado, tinha várias complicações, e a inflamação do pâncreas já tinha causado uma inflamação gigantesca em todo o corpo dele, porque o que aqui em Camaquã eles diziam que estava controlado e melhorando, lá nós descobrimos que o pâncreas já estava 100% necrosado. Ali começou uma luta gigantesca, os médicos fazendo sempre a nós a mesma pergunta: por que deixaram o Bruno, um menino saudável, sem nenhum outro problema, chegar nesse quadro tão grave e talvez irreparável, como de fato foi. Até o dia em que um dos médicos, junto do psicólogo do hospital, deu a notícia para mim e para a mãe do Bruno, de que o que tinham feito com o Bruno aqui era uma crueldade sem tamanho. Em uma reunião com os melhores médicos de Porto Alegre, eles discutiram e nos informaram depois que o Bruno só estava daquele jeito naquele momento por falta de uma cirurgia de 25 min, que atualmente é uma das coisas mais simples na medicina, e que agora não daria mais tempo de fazer nada. Ainda assim, o Bruno aguentou, como um guerreiro, dias e dias, e nós na esperança de salvá-lo, até que chegou o momento que nunca imaginávamos passar, o dia que nos chamaram para nos despedir e nos falaram que eles lutaram com todas as forças, que o Bruno foi e é um guerreiro, mas que infelizmente ele não resistiria. Eu estive do lado dele até o coração dele parar de bater, e quando eu me dei por conta, eu senti tanta dor, misturada de tanta raiva e indignação. O Bruno não era vingativo e em nenhum momento é ou foi essa a minha vontade, mas eu quero justiça. Justiça por uma vida que foi perdida por negligência médica. Ficam as minhas perguntas: por que não transferiram para Porto Alegre antes? Por que não retiraram a vesícula em todos os dias que ele foi pedir ajuda com dor? Por que o Dr. Gabriel deixou ele ser liberado sabendo do que poderia acontecer a qualquer momento de novo? Por que a Dra. Luana olhou nos meus olhos na frente do Chiquinho e da minha sogra, que são testemunhas, e disse sorrindo que os exames estavam apresentando melhora e ele ia para pro quarto? Por que deram comida para ele com uma pancreatite grave? São tantas perguntas e a resposta é a mesma: CRUELDADE, DESPREPARO E NEGLIGÊNCIA.